🔹 A novela da liderança
🔹 A novela da liderança
A Novela Corporativa que Expõe o que Muitos Silenciam
“O Custo Invisível do Crachá®” é uma série autoral escrita por Aristides Girardi, mentor global de executivos, revelando dilemas, bastidores e conquistas da alta liderança. Com linguagem elegante e impacto real, a narrativa já gerou reflexões profundas — e mentorias em três continentes.
Uma novela corporativa de Aristides Girardi
🔹 Sobre a Série
Executivos aplaudidos por fora, esvaziados por dentro.
Famílias ausentes nas fotos, mas presentes nas cicatrizes.
Reuniões que custam mais do que entregam.
O Custo Invisível do Crachá® é a primeira novela corporativa de Aristides Girardi — um retrato emocional, estratégico e brutalmente real dos bastidores da alta liderança.
Uma obra inédita no LinkedIn, escrita em capítulos curtos, com estilo refinado e voz autoral.
Todos os personagens são inspirados em situações verídicas vividas por executivos mentorados pelo autor ao longo de quatro décadas.
Os nomes foram preservados em sigilo. As dores, não.
📘 Primeira Temporada 2025
Uma novela corporativa de Aristides Girardi
🎬 Capítulo 1 | O EMBARQUE
Por Aristides Girardi
Segunda-feira, 6h15. O portão automático ainda ecoava quando ele entrou no carro de luxo. A camisa impecável, o cabelo alinhado… mas a alma, em frangalhos. No retrovisor, um reflexo que já não reconhecia — ou evitava reconhecer.
No banco de trás, a mesma mala de couro. Roupas finas, laptop, powerbank, camisas que só voltariam usadas — ou talvez nem voltassem. O roteiro era previsível: aeroporto, clientes, acionistas… e, quem sabe, um instante de silêncio.
Silêncio? Artigo de luxo que já não podia pagar. Até o motorista parecia inquieto. — “Café, senhor?” Ele agradeceu com um gesto rápido. O paladar estava dormente há meses.
Ao atravessar a cidade, viu um pai puxando o filho pela mão rumo à escola. Uma cena banal, mas que o atingiu como soco. Seu próprio filho dormia quando ele saiu. De novo.
Pensou em ligar para a esposa. Desistiu. Ela entenderia. Sempre entendeu. E talvez esse fosse o problema: entender demais também cansa.
No aeroporto, o embarque era desfile de relógios caros, olhares vazios e dedos aflitos em telas. Ele se encaixava perfeitamente naquele cenário — e odiava isso.
A secretária avisou: “A cliente de Genebra pediu para antecipar a call. E os slides do comitê ainda não foram enviados.” A mente girou como turbina. Mas o peito… seguia imóvel.
Na poltrona 2A, o toque frio da água com gás servida com um sorriso automático. Respirou fundo, olhou pela janela e, pela primeira vez em muito tempo, desejou que o voo atrasasse. Só para adiar mais um pouco aquela rotina cheia de status… e vazia de sentido.
🎬 Capítulo 2 | O QUARTO 704
Por Aristides Girardi
Check-in feito. Cartão magnético em mãos.
Quarto 704. Andar executivo. Corredor perfumado artificialmente — quase enjoativo.
Entrou, jogou a mala na poltrona de couro bege e tirou os sapatos com a pressa de quem correu o dia inteiro… sem sair do lugar.
Ligou a TV apenas para ouvir vozes. Canais de economia. Um CEO falando sobre inovação. Um apresentador vibrando com IPOs. Mas o único IPO que conhecia agora era o Índice Pessoal de Overload. E estava na máxima histórica.
Abriu o frigobar. Whisky 12 anos. Duas pedras de gelo. Metade da dose. Eram 18h47.
Lembrou do jantar às 20h no restaurante caro de São Paulo. Aquele em que os pratos têm nomes impronunciáveis e os garçons chamam de “doutor” sem saber quem você é. Mesa com o diretor comercial, a nova head de marketing e um cliente que exibe gráficos de faturamento entre o polvo grelhado e o vinho do Vale do Loire.
Ele já sabia o roteiro.
Riria das mesmas piadas.
Ouviria as mesmas reclamações.
Faria o brinde.
E voltaria ao hotel com o mesmo gosto de alumínio na boca.
Mas ali, antes de tudo começar, chorou. Não aos gritos. Não em desespero. Apenas soluçou baixinho, como quem já se acostumou com a dor.
No chão de mármore do banheiro, encostado na parede, terno ainda vestido, taça ainda na mão. Na mala: roupas de quem venceu. No peito: o peso de quem desistiu de si mesmo.
O celular vibrou. Era a esposa:
“Boa noite, amor. O João foi dormir rindo.
Hoje ele me perguntou se você gosta mais do hotel ou da nossa casa.
Eu disse que era da gente. Acertei?”
Ele digitou. Apagou. Respirou. Tomou o resto do whisky. Respondeu:
“Acertou sim. Só tô meio cansado.
Amanhã a gente se fala melhor.”
Encostou a cabeça no travesseiro do quarto 704.
Fechou os olhos.
E pela primeira vez naquela semana, rezou para que o despertador não tocasse.
🎬 Capítulo 3 | O DIA SEGUINTE
Por Aristides Girardi
O despertador tocou às 6h30.
Mas o corpo já estava desperto às 5h57.
Ali, parado, cabeça encostada na cabeceira, olhos abertos, alma vazia. O terno pendurado na cadeira.
Camisa nova, gravata bordô — presente da esposa, ainda com a etiqueta da última Black Friday.
No chão, a taça vazia.
No peito, o gosto amargo daquilo que não se fala em reuniões de comitê.
Desceu para o café com olhos fundos e sorriso de piloto automático.
Sentou-se na mesma mesa de sempre. Croissant intocado, café coado, notebook aberto no relatório de pipeline.
Mas a mente estava em João, o filho, perguntando se ele ainda gostava da casa.
Na esposa, que não cobrava mais nada.
E no espelho do quarto, que ontem lhe mostrou um estranho.
Às 9h12, entrou na sala do cliente.
Glass building. Sala panorâmica. Sofás italianos.
Um diretor tentando parecer informal, forçando piadas sobre futebol.
— “Você ainda torce pro mesmo time? Ou já mudou pra seguir o mercado?”
Risos. Sorrisos. Risadinhas.
Ele também riu. Mas por dentro, estalou.
Durante a apresentação, fingia anotar.
Mas rabiscava:
“E se eu sumisse por uma semana?”
“Se eu pedisse demissão agora, quem seria eu?”
“Será que meu filho vai lembrar do meu cheiro ou só do meu status?”
O VP o chamou de volta com um sorriso afiado:
— “Gostaria que você falasse agora sobre os impactos no ROI do plano de expansão.”
Ele respirou fundo.
E falou.
Com a mesma firmeza de sempre.
Porque o treinaram para isso.
Para nunca falhar no discurso.
Mesmo quando tudo dentro dele gritava.
Ao sair da sala, foi direto ao banheiro.
Tirou a gravata.
Lavou o rosto.
Olhou o reflexo mais uma vez.
E murmurou, agora em voz audível:
“Isso aqui… não é mais meu.”
🎬 Capítulo 4 | O AEROPORTO por Aristides Girardi
Ele chegou ao aeroporto três horas antes do voo.
Algo que nunca fazia.
Mas aquele dia precisava durar mais.
Ou terminar de uma vez.
Sentou num canto discreto da sala VIP.
Tirou o blazer.
Afrouxou a gravata.
Pediu uma dose dupla de whisky — sem gelo.
Enquanto esperava o embarque, abriu o e-mail.
Quarenta e duas mensagens não lidas.
Seis com “urgente” no assunto.
Nenhuma com sentido.
Foi quando ouviu a voz:
— “Ainda fugindo do que importa ou só esperando o embarque?”
Levantou os olhos.
Era ele.
O mentor.
Aquele com quem falara apenas duas vezes nos últimos sete anos.
Mas que, nas duas, virara a chave.
— “Achei que você estivesse em Genebra”, disse o executivo.
— “Estava. Mas hoje eu precisava voar pro mesmo destino que você… ou talvez só aterrissar na sua dúvida.”
Sentaram lado a lado.
Sem drama.
Sem roteiro.
Só duas taças, dois silêncios e uma pergunta.
— “Você está cansado do trabalho… ou da mentira que virou seu trabalho?”
O executivo ficou em silêncio.
Mas os olhos responderam antes da boca.
— “Você se perdeu tentando ser o que esperavam de você.
E esqueceu quem era quando ainda acreditava em propósito.”
Ele tentou argumentar:
— “Mas os acionistas, os relatórios, a equipe… o mercado...”
O mentor cortou, sem elevar a voz:
— “O mercado aguenta.
Mas seu filho não aguenta mais jantar sem você.
E sua esposa não aguenta mais entender sozinha.”
Pausa.
— “Sabe o que os líderes que eu mais admiro aprenderam a fazer?”
— “O quê?”
— “Dizer não. Não pra expectativa alheia.
Não pra agenda dos outros.
Não pro papel de herói infeliz.”
O silêncio voltou.
Dessa vez, bem-vindo.
— “E o que eu faço agora?”, perguntou com a voz embargada.
O mentor levantou, pegou a mala, sorriu:
— “Você já sabe.
Só precisava ouvir alguém repetir o que sua consciência sussurra desde o capítulo 1.”
E se despediu com um aperto de mão firme:
— “A única coisa mais cara que perder o cargo… é perder a si mesmo.”
O embarque foi anunciado.
Mas, pela primeira vez em muito tempo…
ele não tinha pressa pra voltar.
🎬 Capítulo 5 | O RETORNO Por Aristides Girardi
O avião aterrissou às 19h14.
Chovia fino em São Paulo.
O céu acinzentado misturava poluição, reflexos e um ar de domingo com gosto de sexta cansada.
Ele recusou o carro executivo da empresa.
Pediu um carro de aplicativo — desses discretos.
Nada de black, nada de motorista que chama pelo nome.
Queria voltar pequeno… pra se reencontrar inteiro.
No caminho, o celular vibrou com alertas acumulados.
O grupo dos diretores discutia um cliente perdido.
A gerente de RH queria saber se ele revisaria o plano de sucessão.
O CEO deixou uma mensagem de voz.
Ele não ouviu.
Pela primeira vez, silenciou tudo.
Pra escutar a si mesmo.
Na porta de casa, o portão parecia mais pesado do que antes.
Ou talvez ele estivesse mais consciente do que carregava.
A esposa atendeu com aquele olhar misturado de susto e alívio.
Ele não falou nada.
Abraçou.
Forte.
Com a firmeza de quem finalmente entendeu que presença não se terceiriza.
Na cozinha, o filho desenhava um avião com duas janelas e um bonequinho dentro.
Ele se aproximou, ajoelhou ao lado e perguntou:
— “Esse aí sou eu?”
O menino sorriu:
— “Ainda não. Mas amanhã você pode ser.”
Ele fechou os olhos por dois segundos.
E teve vontade de chorar.
Mas riu.
Riu como quem recomeça.
Como quem caiu de um prédio, mas pousou em si mesmo.
Como quem não quer mais vencer só pros outros verem.
Mas viver pra sentir.
Na semana seguinte, enviou um e-mail ao board:
“Senhores, agradeço pela confiança até aqui.
Mas preciso confiar em mim antes de continuar liderando vocês.
Deixo a empresa em paz, mas levo de volta o que quase perdi:
minha essência.”
Desligou o notebook.
Olhou pela janela.
Respirou fundo.
E pela primeira vez em muitos anos, sentiu-se livre.
Sem crachá.
Sem aeroporto.
Sem frases de efeito.
Apenas ele.
Presente.
Em casa.
Com vida nova.
E propósito reconectado.
🎬 Capítulo 6 | O CONVITE Por Aristides Girardi
O avião pousou no fim da tarde de sábado, em uma ilha discreta no Caribe.
Nada de resort com pulseira no braço.
Ali, tudo era silêncio, areia quente e o som grave das ondas batendo com disciplina.
Ele não estava sozinho.
A esposa caminhava de mãos dadas com o filho.
O menino arrastava um baldinho azul, rindo com a simplicidade que só quem não sabe o que é “reputação” consegue ter.
Na chegada ao hotel, um gesto inesperado: desligou o celular.
Desativou notificações.
Ajustou o despertador apenas para o horário do café.
Nada de reuniões, calls ou relatórios.
Naquela semana, a única meta era desacelerar.
No segundo dia, reencontrou rituais esquecidos.
Ver o pôr do sol com os pés na água.
Ouvir a risada da esposa sem o olhar preso na tela.
Sentir o corpo afrouxar — como se também estivesse exausto da performance constante.
Mas foi na quarta-feira, às 11h42, que a calma foi interrompida.
Na beira da piscina, com um livro pela metade, o celular vibrou.
Ligação perdida. Número internacional.
Logo em seguida, uma mensagem no WhatsApp:
“Sou headhunter de uma firma global.
Um dos nossos clientes confidenciais busca um executivo com o seu perfil.
A posição é estratégica, de alta exposição. Envolve mudança de país.
Podemos conversar com calma?”
Ele olhou a mensagem.
Ficou parado.
E não respondeu.
Pela primeira vez, não sentiu pressa em dizer “sim”.
Nem medo em dizer “não”.
Chamou o filho para brincar.
Depois, caminhou até o deck onde a esposa lia um romance.
Sentou ao lado, em silêncio.
E ficou ali, apenas olhando o mar.
À noite, enquanto ela dormia, saiu do quarto com o celular na mão.
Caminhou até a varanda.
Digitou um nome no WhatsApp: o mentor.
“Preciso falar.
Apareceu uma proposta… daquelas que mexem.”
A resposta veio em menos de dois minutos:
“Fala, meu caro.
Antes de decidir se vai ou fica, me diga:
você está querendo ir… ou querendo fugir?”
Ele olhou para o céu.
Nenhuma estrela.
Mas, pela primeira vez, sentiu que estava prestes a enxergar.
Na manhã seguinte, o mar ainda estava calmo.
Mas dentro dele, algo começava a se mover.
🎬 Capítulo 7 | O MAR MAIS URGENTE Por Aristides Girardi
A chamada foi marcada para 7h da manhã.
Não por acaso.
Era o único horário em que o silêncio da casa competia com o silêncio interior.
A esposa ainda dormia.
O filho, encolhido no quarto ao lado, sonhava com castelos de areia.
E ele, de camiseta e pés descalços, estava sentado na varanda — com o mar à frente e a mente embaralhada.
O celular vibrou.
Chamada de vídeo.
O mentor surgiu no fundo de sempre: livros, uma xícara de cerâmica, olhar afiado.
— “Fala, meu caro. Está tudo azul por aí?”
Ele riu, sem força.
— “Aqui o céu tá azul, mas por dentro… ainda nublado.”
O mentor sorriu.
Aquele sorriso que vem antes de uma frase que não perdoa:
— “Me conta. O convite é pra você… ou pra sua vaidade?”
Silêncio.
Ele respirou.
— “É uma baita posição. Exposição global. Equipe grande. Remuneração excelente.
Seria um salto.”
— “Um salto pra onde?”, o mentor cortou.
— “Pra frente…”
— “Pra frente ou pra longe?”
— “Talvez pros dois.”
— “Você quer ir… ou quer sair de onde está?”
Ele não respondeu.
Apenas olhou para o mar.
O mentor continuou:
— “Quantos líderes eu já vi correndo de um lugar insuportável… direto pra outro insustentável.
Cargo bonito. Agenda lotada. Alma vazia.”
— “Eu não quero isso.”
— “Então não decide agora. Aproveita o cenário. Sente o silêncio.”
Pausa.
— “Você está onde todo líder deveria estar pelo menos uma vez na vida: longe o suficiente pra enxergar com clareza…
e perto o bastante pra sentir o que importa.”
Ele sorriu, dessa vez de verdade.
— “Posso pensar alguns dias?”
— “Você deve.
Mas lembre: quando a proposta é boa demais, o risco é perder a si mesmo no pacote.”
Desligaram.
O sol subia no horizonte.
O filho apareceu com uma toalha no ombro.
— “Pai, vamos pro mar?”
Ele levantou.
Guardou o celular na gaveta.
E respondeu com firmeza:
— “Vamos. Hoje, o mar é mais urgente.”
Na areia, entre risos e castelos tortos,
ele começou a entender que descanso não é fraqueza.
É estratégia.
🎬 Capítulo 8 | O CANCELAMENTO
Por Aristides Girardi
O avião pousou no final da tarde de domingo.
Dessa vez, ele não estava sozinho na fila da imigração.
A esposa de vestido leve e olhar tranquilo.
O filho, cabelo ainda molhado do último mergulho e um tubarão de pelúcia na mochila.
O motorista estava lá.
Terno preto. Placa com o sobrenome.
Mas ele dispensou.
— “Hoje a gente vai de carro normal. Quero dirigir. Quero ver a cidade.”
A esposa sorriu.
Sabia que aquela frase não era sobre trânsito.
Era sobre tempo.
Tempo que ele estava reaprendendo a ocupar.
No caminho, o filho dormiu no banco de trás.
E ela, com o rosto encostado no vidro, disse baixo:
— “Foi bom ver você com a gente. Inteiro. Não só presente.”
Ele apertou o volante com suavidade.
E, pela primeira vez em meses, não sentiu culpa.
Sentiu gratidão.
Chegaram em casa.
Mala no canto da sala.
Roupa de praia no varal.
E uma leveza no ar — daquelas que só acontecem quando o silêncio foi bem vivido.
No dia seguinte, a agenda estava limpa.
Por escolha.
Ele precisava deixar o eco da viagem reverberar antes de decidir.
Mas a notificação chegou às 9h12:
“Bom dia. Infelizmente, os acionistas decidiram cancelar a vaga.
A empresa reestruturou planos e vai manter o atual board por mais 18 meses.
Lamento. Se surgir algo com o seu perfil, volto a te procurar.
Um abraço.”
Ele leu.
E ficou parado.
Um minuto. Dois.
Não jogou o celular longe.
Não xingou.
Não gritou.
Foi até a cozinha.
Preparou um café.
Voltou para a sala.
E sorriu.
Não de ironia.
Mas de alívio.
— “Talvez eu precisasse exatamente disso… pra não me perder de novo.”
Abriu o laptop.
Não para mandar currículo.
Mas para escrever num bloco de notas:
“Começar por dentro.
Não pelo título.
Não pelo salário.
Não pelo LinkedIn.
Pelo que faz sentido.
E permanece.”
Na rua, o caminhão de lixo passou fazendo barulho.
Mas dentro de casa, tudo estava limpo.
🎬 Capítulo 9 | O TEMPO REAPRENDIDO
Por Aristides Girardi
Os dias começaram a passar mais devagar.
Ou talvez ele apenas tivesse parado de correr.
Não havia mais malas abertas.
Nem reuniões para “anteontem”.
A agenda… respirava.
E ele também.
Na terça-feira, levou o filho para a escola a pé.
Descobriu que o caminho tinha uma banca de jornal, um café com pão na chapa de verdade, e um segurança que dizia “bom dia” com vontade.
No fim da tarde, voltou a cozinhar.
Um risoto básico, mas com orgulho — como quem reaprende a tocar o próprio cotidiano.
Começou a dormir melhor.
A ler mais.
A ouvir a esposa sem consultar notificações a cada vírgula.
Mas não era só paz.
A inquietação também morava ali.
A cada ligação de número desconhecido, o coração apertava.
A cada post de ex-colega celebrando um novo cargo, surgia a pergunta:
“Será que eu estou atrasado?”
Foi então que criou um novo ritual.
Todas as manhãs, antes de abrir e-mails ou redes sociais, escrevia uma pergunta em um caderno de capa preta:
“Quem eu quero ser hoje?”
“O que eu não quero mais repetir?”
“O que vale meu tempo — e o que não vale nem um alerta?”
Era só uma linha por dia.
Mas aquela prática simples começou a desenhar um novo mapa.
Um mapa sem GPS.
Mas com direção.
Recebeu duas propostas nos últimos dias.
Uma, muito parecida com a anterior — pacote robusto, alma fria.
Outra, menor, mas com impacto real.
Recusou as duas.
Não por arrogância.
Mas por maturidade.
Disse ao mentor, em mensagem curta:
“Aprendi a diferença entre oportunidade e armadilha com perfume.”
Na quarta-feira à noite, enquanto dobrava roupas do filho, ouviu da esposa:
— “Engraçado… você anda mais leve. Mesmo com a pressão de não ter ‘pra onde ir’.”
Ele respondeu:
— “Talvez porque, pela primeira vez, eu não tô fugindo de nada.”
Na parede da sala, o relógio seguia seu ritmo.
Mas dentro dele, o tempo deixava de ser um inimigo.
E começava a virar aliado.
🎬 Capítulo 10 | CEO DE SI MESMO
Por Aristides Girardi
Na sexta-feira, ele acordou antes do despertador.
O céu ainda escuro.
A cidade em transição entre o ruído e o sussurro.
Foi até a cozinha.
Preparou o café sem pressa.
Sentou à mesa.
Abriu o caderno preto.
E escreveu apenas uma palavra:
“Pronto.”
Não havia mais ofertas pendentes.
Nem sinais claros de onde seria o próximo passo.
Mas havia uma paz que ele não sentia desde… talvez antes da primeira promoção.
Entendeu que a escolha mais importante não era entre empresas.
Era entre o tipo de vida que queria construir…
e o tipo de vida que o mercado premiava.
Ali, no silêncio da própria casa, decidiu não correr.
Não forçar.
Não buscar “visibilidade”.
Só continuar presente.
Refinar a escuta.
Afiar a consciência.
Começou a organizar uma ideia antiga.
Um projeto próprio.
Não para impressionar.
Mas para impactar.
Menos palco. Mais essência.
Ligou para o mentor.
Dessa vez, não para pedir conselho.
Apenas disse:
— “Você me ajudou a não aceitar mais qualquer vaga.
Agora… estou criando meu próprio lugar.”
Do outro lado, silêncio.
Depois, um riso curto e um:
— “Enfim… CEO de si mesmo.”
Ele desligou.
Sorriu.
E foi levar o filho ao treino de futebol.
No caminho, pararam no farol.
Um menino vendia doces.
Ele abriu a carteira, comprou dois.
Entregou um para o filho.
E disse:
— “Hoje eu tô mais doce também.”
Às vezes, a maior decisão da carreira
não é mudar de empresa.
É mudar o jeito de viver o tempo.
🎬 Capítulo 11 | O RETORNO AO JOGO Por Aristides Girardi
No 38º andar, a vista era panorâmica.
A mesa, de mármore frio.
Os olhos — quase todos — mais opacos que os relatórios sobre ela.
Ele chegou com sete minutos de antecedência.
Camisa branca. Sem logo. Sem pressa.
Cabelo alinhado, mas sem rigidez.
Não era mais o mesmo.
Já não caminhava em busca de poder.
Agora, carregava presença.
Cumprimentou todos com um leve aceno.
Sem discursos de efeito.
Sem tentativas de impressionar.
Ali, naquele comitê de expansão para a América Latina,
ele era o único que já havia aberto mão de um crachá…
e voltado por escolha.
A pauta era densa:
➤ Aquisição de uma startup colombiana
➤ Reestruturação fiscal no México
➤ Definição do novo head de operações no Brasil
As vozes se atropelavam entre gráficos e promessas.
Mas ele esperou.
Quando lhe deram a palavra, não projetou slides.
Olhou nos olhos.
E disse:
— “Posso até estar errado. Mas tenho convicção.
Não investimos em ativos. Investimos em gente.
Se esquecermos isso, vamos ganhar escala…
e perder cultura.”
Silêncio.
Um dos conselheiros mais antigos —
conhecido por desdenhar da ala “soft” —
ajustou os óculos e murmurou:
— “Você voltou diferente.”
Ele apenas respondeu:
— “Voltei inteiro.”
Lá fora, chovia.
Lá dentro, o comitê aprovava o plano.
Com ajustes.
Sugeridos por ele.
Nada espetaculoso.
Mas real.
Sustentável.
Ao sair da sala, uma notificação:
“E aí, como foi seu retorno ao jogo grande?”
Era o mentor.
Ele digitou sem hesitar:
— “Dessa vez, estou jogando…
mas com as regras que fazem sentido pra mim.”
Na calçada molhada, enquanto esperava o carro,
um jovem analista o abordou:
— “Desculpe… o que o senhor fez quando se sentiu perdido?”
Ele sorriu.
— “Aceitei me perder. Depois pedi ajuda.
Um bom mentor sabe a hora de empurrar…
e a hora de apenas sentar ao lado.”
E entrou no carro.
Sem pressa.
Mas com direção.
🎬 Capítulo 12 | O PLANO EM CASA
Por Aristides Girardi
Naquela sexta-feira, o trânsito não era o problema.
O problema era o velho hábito de achar que não tinha tempo.
Mas ele estava decidido a desobedecer à antiga versão de si mesmo.
Chegou em casa às 19h02.
Sem avisar.
Sem flores.
Apenas com vontade.
A esposa estava na cozinha, de costas, ouvindo música antiga.
Quando ele encostou na porta e disse:
— “Tô com fome… de estar aqui.”
Ela não respondeu.
Só sorriu.
E continuou cortando os legumes como se aquela fosse a reunião mais importante do dia.
Sentaram à mesa sem celulares.
Sem distrações.
Sem urgência.
O filho apareceu com um desenho nas mãos.
Era um boneco de gravata e mochila nas costas.
— “Esse é você, pai. Indo trabalhar… mas com cara feliz agora.”
Ele segurou o riso e o choro ao mesmo tempo.
Só respondeu:
— “Acertou no detalhe. A mochila tá mais leve.”
Depois do jantar, colocou o menino para dormir.
Leu duas páginas de um livro que o mentor tinha indicado anos atrás,
mas que só agora fazia sentido.
Mais tarde, na varanda, conversava com a esposa sobre o novo ciclo profissional.
Falou da reunião do comitê.
Dos olhares.
Das decisões.
Ela ouvia, tranquila.
E então perguntou:
— “Você ainda sente medo de perder tudo?”
Ele respondeu, sem hesitar:
— “Hoje eu só tenho medo de me perder de novo.”
Ela se aproximou:
— “Então promete que vai continuar voltando pra cá. Pra gente. Sempre.”
Ele segurou firme a mão dela.
E disse:
— “Não é mais uma promessa. É parte do plano.”
Na sala, o relógio marcava 22h14.
Mas naquela casa…
o tempo estava em paz.
📘 Segunda Temporada 2025
Uma novela corporativa de Aristides Girardi
🎬 Capítulo 13 | O CORTISOL NÃO MENTE
Por Aristides Girardi
Entrou pela porta lateral do hospital como quem não queria ser visto.
Mas ali, entre paredes frias e silêncio clínico, não existiam crachás, cargos ou comitês.
Só exames. Só verdades.
Era a primeira vez, em anos, que ele parava para cuidar de si por inteiro.
Antes, sempre havia uma justificativa.
“Agora não dá, minha agenda está lotada.”
Mas no fundo, ele sabia: não era falta de tempo.
Era medo do que o corpo poderia confessar.
Na tela, seu nome piscava ao lado do número 07.
E naquele cubículo de jaleco e bisturi, o médico foi direto:
— “Nada grave. Mas o senhor está esgotado. E o cortisol não mente.”
Ele suspirou, como quem já sabia.
Mas é sempre mais duro ver por escrito.
— “O senhor dorme bem?”
— “Agora, sim.”
— “Se alimenta direito?”
— “Estou reaprendendo.”
— “Se movimenta?”
— “Comecei. Pouco. Mas com constância.”
O médico sorriu.
— “Bom começo. Porque muitos só procuram saúde… quando já perderam.”
Na saída, passou pela farmácia.
Mas não comprou nada.
No bolso, uma receita.
Na cabeça, um lembrete sussurrado:
“Prioridade não é o que mais grita. É o que sustenta o resto.”
À noite, foi à academia.
Sem pressa. Sem espelho.
Caminhou 30 minutos.
Ouvindo o corpo. Respeitando o tempo.
No vestiário, sentou.
E escreveu no bloco de notas do celular:
“Se eu perder a saúde pra manter um posto… eu não ganhei. Eu fui vencido.”
No dia seguinte, o mentor ligou.
Sem pauta. Sem cobrança.
Apenas perguntou:
— “E o CEO aí dentro… tá vivo?”
Ele sorriu.
— “Tá sim. Tá aprendendo a viver, inclusive fora do cargo.”
Do outro lado, o riso cúmplice:
— “É isso. Porque no final… não é o tempo que falta.
É o cuidado que a gente esqueceu de dar.”
🎬 Capítulo 14 | A PONTE
Por Aristides Girardi
Era madrugada no Brasil quando ele pousou em Tóquio.
O fuso bagunçava o corpo, mas não a intenção.
Estava ali a convite da diretoria global — a fusão com o fornecedor japonês era estratégica.
No hall do hotel, o gerente se curvou com delicadeza.
Chamou-o de sensei ao entregar a chave.
Ele estranhou no início.
Depois entendeu: ali, mais do que status, se honrava a trajetória.
Na manhã seguinte, o motorista o aguardava com pontualidade cirúrgica.
No carro, nenhum som.
A cidade passava como um filme sem trilha sonora, mas com direção precisa.
A reunião foi em um prédio discreto, sem ostentação.
Na sala, cinco executivos japoneses aguardavam em silêncio.
Ele se curvou com respeito.
E só falou quando foi convidado.
Apresentou o projeto com firmeza, mas sem pressa.
Evocou dados, mas também valores.
Falou sobre crescimento, mas sem esquecer de mencionar integridade.
No fim, o mais velho do grupo fez um comentário raro:
— “Gostamos da sua fala. O senhor ouve antes de tentar convencer.
Isso é raro entre líderes ocidentais.”
Ele apenas agradeceu.
E guardou a frase como um presente.
No jantar de encerramento, em um restaurante tradicional, todos sentaram no chão.
Sake, silêncio e sutileza.
Em vez de brindes e discursos, conversas curtas… com significado profundo.
Na volta ao hotel, mandou uma mensagem para o mentor:
— “Hoje aprendi que liderança não é voz alta.
É presença que não precisa gritar.”
A resposta veio breve:
— “Você está virando ponte.
De cultura.
De consciência.
De legado.”
Na madrugada seguinte, caminhou sozinho por uma rua tranquila de Tóquio.
Olhou vitrines fechadas.
Respirou o ar gelado.
E pensou:
“Talvez, finalmente, eu esteja aprendendo a liderar… sem me perder de mim.”
🎬 Capítulo 15 | O ENCOSTO COM CONSCIÊNCIA
Por Aristides Girardi
Nova Iorque.
Prédio histórico, elevador silencioso, andar restrito.
Na porta dourada, o nome da holding gravado com sobriedade.
Ali dentro, o verdadeiro poder não usava crachá — usava capital.
Ele entrou na sala com postura tranquila.
Barba feita.
Mente limpa.
Discurso afiado na experiência e na alma.
Na mesa, sete acionistas.
Alguns, velhos conhecidos.
Outros, novos jogadores com olhos famintos por ROI e frases de efeito.
O chairman foi direto:
— “A fusão foi aprovada. Mas precisamos entender seu plano de médio prazo.
Como pretende entregar crescimento… sem cortar mais gente?”
Ele respirou.
Não havia PowerPoint.
Só coragem.
— “Corte de pessoal sempre parece solução rápida. Mas é frágil.
Estamos lidando com uma geração que não troca propósito por bônus.
Crescimento real vai exigir cultura, não apenas custos.”
Alguns franziram a testa.
Outros se inclinaram na cadeira.
— “Estamos formando um novo tipo de líder.
Menos ansioso por cargos. Mais preparado para resultados sustentáveis.
A boa notícia é: já temos nomes internos prontos.
A má: eles só ficam… se sentirem que pertencem.”
O investidor canadense sorriu de canto:
— “Você parece mais leve do que antes.”
— “Não confunda leveza com ingenuidade.
Só não carrego mais o que não me serve.”
Ao final, um dos acionistas se aproximou discretamente no corredor:
— “Sabe, ouvindo você hoje, lembrei de algo que um mentor me disse anos atrás:
‘Tem executivo que ocupa a cadeira.
E tem os que honram o encosto com consciência.’
Parabéns. Você escolheu bem o lado.”
Na noite seguinte, no hotel, ele olhou a vista de Manhattan.
Sentado com um copo de água na mão — sem gelo, sem pressa.
Abriu o bloco de notas no celular e escreveu:
“Antigamente, eu temia ser julgado.
Hoje, temo apenas esquecer quem sou.”
E dormiu com a alma tranquila.
Porque, pela primeira vez em muito tempo, não precisava provar nada.
Nem para o mercado.
Nem para o espelho.
🎬 Capítulo 16 | O LEGADO EM CONSTRUÇÃO
Por Aristides Girardi
Era segunda-feira, 8h17.
Antes de a empresa acordar por completo, ele já estava em uma sala de vidro, com café forte na caneca e olhos atentos.
Na mesa, quatro nomes promissores da nova geração.
Perfis distintos: uma VP de marketing ousada, um diretor financeiro metódico, um gestor de supply pragmático e uma executiva de RH com sede de impacto.
A pauta era simples — mas nada leve: preparar sucessores.
Ele sabia que, naquele ambiente, cada frase podia virar bússola… ou ruído.
Por isso, começou com uma pergunta:
— “Qual de vocês está pronto pra abrir mão do cargo… pra manter a cultura?”
Silêncio.
A mais jovem respondeu:
— “Eu não sei se estou pronta. Mas sei que quero aprender a fazer isso sem me anular.”
Ele sorriu.
— “É um bom começo. Porque quem acha que já sabe tudo… nunca está pronto de verdade.”
Durante duas horas, debateram dilemas reais:
✔ Como dar feedbacks que provocam sem ferir?
✔ Como tomar decisões duras sem perder a alma?
✔ Como crescer sem virar cópia de quem veio antes?
Ao final, um dos líderes perguntou:
— “E você? Quem foi seu modelo?”
Ele olhou pela janela.
Lá fora, a cidade seguia no ritmo habitual.
Mas por dentro, veio um nome com força serena.
— “Tive muitos. Mas um, em especial, me ensinou a diferença entre formar times… e formar legados.”
Fez uma pausa.
— “Ele não me disse o que fazer. Me ajudou a descobrir quem eu era.”
Ao sair da sala, sentiu algo raro:
leveza em plena segunda-feira.
No elevador, anotou no celular:
“A liderança não termina quando te seguem.
Ela começa… quando alguém evolui por tua causa.”
🎬 Capítulo 17 | O PALCO E O ESPELHO Por Aristides Girardi
Las Vegas.
Pavilhão central da maior feira de tecnologia e inovação corporativa do planeta.
Milhares de líderes, luzes, painéis de LED e cases de disrupção brotando em cada esquina.
Ele caminhava pelos corredores com um crachá pendurado no pescoço.
Mas, diferente de outros tempos, aquele crachá já não era escudo… nem armadura.
Era só um lembrete de que pertencia àquele mundo — mas não era refém dele.
No segundo dia, subiu ao palco para uma mesa redonda sobre O Futuro da Liderança em Ecossistemas Ágeis.
A pauta era moderna.
A plateia, exigente.
Ao seu lado, executivos de empresas bilionárias.
Palavras como machine learning, lead time e pivotagem voavam como drones conceituais.
Quando lhe passaram o microfone, ele sorriu com calma.
E disse:
— “Não sou contra tecnologia.
Mas aprendi que, sem consciência, a gente só acelera… o caminho errado.”
Houve silêncio por dois segundos.
Depois, atenção plena.
— “Cultura ágil não se faz com post-its coloridos.
Se faz com líderes que não adoecem suas equipes por metas mal resolvidas.”
Aplausos discretos.
Mas verdadeiros.
Após o painel, uma CEO brasileira o abordou nos bastidores:
— “Você falou o que todos sentem, mas ninguém tem coragem de dizer.”
Ele respondeu com naturalidade:
— “Falo porque já vivi.
E porque tive um mentor que me ensinou a não vender minha lucidez por likes.”
Naquela noite, em seu quarto de hotel, olhou para o espelho grande emoldurado em dourado.
Não se via como palestrante.
Nem como estrela.
Apenas como alguém que voltou a gostar da própria imagem.
Abriu o laptop.
Escreveu no caderno digital que só ele lia:
“O palco é vaidoso.
Mas só tem valor quando também é espelho.”
🎬 Capítulo 18 | O ENCONTRO EM ROMA Por Aristides Girardi
A reunião com a fornecedora italiana terminou ao meio-dia.
Um almoço cordial. Assuntos alinhados.
A parceria avançaria.
Mas o que ficou mesmo foi a sensação de que aquele dia ainda traria algo além da pauta.
Sem planejar, decidiu caminhar até o Coliseu.
Sozinho. Sem pressa.
Sapatos trocados por tênis.
Terno por camisa de linho leve.
Ao chegar, sentou-se em um banco de pedra.
Fechou os olhos por um instante.
O sol tocava o rosto como um lembrete antigo:
a vida também é feita do que não se agenda.
Foi quando ouviu a voz.
— “Sabia que os imperadores romanos tinham um escravo particular com uma função curiosa?”
Ele abriu os olhos devagar.
Girardi estava ali.
Sentado ao lado.
Com o mesmo sorriso calmo de sempre.
— “Eles sussurravam no ouvido do imperador durante as celebrações: Memento mori.
Lembra-te de que és mortal.”
O executivo riu.
— “E eu achando que vir a Roma era só turismo.”
Girardi continuou:
— “Você já viu o que tinha que ver nas empresas.
Agora veio ver o que ficou de pé mesmo depois de todas as guerras.”
Silêncio.
Trânsito ao longe.
O eco do Coliseu abraçando aquela pausa.
— “Você veio pra alinhar contratos. Mas está alinhando algo maior.”
— “O quê?”
— “O seu eixo interno.”
Ficaram ali mais um tempo, observando turistas tentando equilibrar a torre de selfies com a torre da vaidade.
Antes de partir, Girardi disse:
— “Lembre-se: o verdadeiro legado não é o que você constrói nas empresas.
É o que você deixa nas pessoas que cruzaram o seu caminho.”
Naquela noite, de volta ao hotel, o executivo escreveu em seu caderno de viagem:
“Hoje não fechei negócio.
Abri consciência.”
E dormiu leve.
Como quem reencontrou uma parte de si nas ruas de Roma.
🎬 Capítulo 19 | A NOVA GERAÇÃO
Por Aristides Girardi
Toronto.
Sede moderna, janelas espelhadas, café orgânico na recepção e mesas de sinuca nos fundos — o tipo de ambiente onde o dress code é a autenticidade.
A reunião era com um cliente promissor: uma empresa tech em crescimento exponencial.
Ele entrou na sala de vidro com o andar firme de quem já viu o sucesso de perto… e também o custo que ele cobra.
Foi recebido por um diretor jovem, 32 anos, barba por fazer, olhar inquieto.
Nome: Daniel.
— “Admiro sua trajetória, de verdade”, disse o rapaz logo após o aperto de mão.
— “Mas posso ser direto? Preciso entender uma coisa antes de fechar o contrato.”
O executivo assentiu.
Daniel então perguntou:
— “Você ainda acredita que é possível liderar com propósito… em ambientes onde o que vale é o valuation?”
Silêncio.
Não daqueles constrangedores — mas dos que antecedem uma resposta que vem de dentro.
— “Acredito.
Porque já fui engolido por esse sistema.
E só voltei pra mesa depois de ter aprendido a levantar da cadeira certa.”
Daniel sorriu, surpreso com a honestidade.
— “Então por que você topou nos atender?”
— “Porque vocês ainda estão construindo a cultura.
E talvez ainda dê tempo de crescer sem sacrificar a essência.”
A reunião seguiu.
Pauta técnica, plano de trabalho, próximos passos.
Mas a semente já tinha sido plantada.
Na saída, Daniel acompanhou até o elevador.
— “Obrigado por não fingir que tem todas as respostas.”
— “É que agora eu escuto mais do que tento convencer.”
— “Tem mentor pra isso?”
— “Tenho sim. O nome dele é Girardi.
Mas ele não dá respostas. Ele calibra bússolas.”
Naquela noite, o executivo caminhou pela orla do Lake Ontario.
Viu casais correndo, jovens com fones de ouvido, o sol se pondo atrás das torres.
E pensou:
“A nova geração não precisa de fórmulas.
Precisa de exemplos vivos.”
🎬 Capítulo 20 | O ESPELHO MAIS ÍNTIMO
Por Aristides Girardi
Quarta-feira, 10h38.
Ligação da escola.
— “Sr. Eduardo, o João teve um pequeno desentendimento com outro aluno.
Seria possível conversarmos pessoalmente?”
Ele olhou para a agenda.
Quatro reuniões.
Uma entrega pendente.
Um call internacional.
— “Sim. Chego em 20 minutos.”
Desligou.
E deixou o mundo corporativo no mudo.
Na sala da coordenação, encontrou o filho cabisbaixo.
Ao lado, uma professora jovem e uma coordenadora experiente.
— “Pelo que ouvimos dos colegas, o João empurrou o outro menino depois de ser chamado de ‘metido’.
Nada grave, mas achamos importante conversar.”
O garoto, envergonhado, disse com voz baixa:
— “Ele falou que eu fico me achando porque meu pai viaja muito.
E eu só falei que você é importante.
Não queria brigar.
Mas me deu raiva.”
Silêncio.
Ele se abaixou, ficando na altura do olhar do filho.
— “João, você sabe o que o pai faz?”
— “Você trabalha. Muito.”
— “E sabe por que eu trabalho?”
— “Pra cuidar da gente.”
Ele sorriu.
Depois, ficou sério.
— “Ser importante não é sobre viajar ou ter cargo.
É sobre como a gente trata os outros.
Mesmo quando somos provocados.”
O menino assentiu, olhando nos olhos do pai.
A coordenadora, discreta, apenas observava.
E depois comentou:
— “Nem todos os pais vêm quando a gente chama.
E quase nenhum desce até o chão… pra conversar de igual.”
Na saída da escola, o filho segurou sua mão.
E disse:
— “Pai, posso te contar um segredo?”
— “Claro.”
— “Às vezes eu falo de você pros meus amigos…
porque quero que eles saibam que você existe de verdade.”
Ele não respondeu.
Apenas apertou a mão do filho mais forte.
Como quem entende o peso e a beleza de ser espelho.
Naquela noite, no caderno preto, escreveu:
“Liderar uma empresa é difícil.
Mas liderar os olhos de um filho…
é o que me mantém inteiro.”
🎬 Capítulo 21 | O TOPO POSSÍVEL
Por Aristides Girardi
Quarta-feira.
17h48.
O celular vibrou com uma notificação diferente.
Era uma mensagem direta, vinda de um número internacional.
Assinada por um dos headhunters mais influentes do mercado.
“Temos uma proposta de CEO regional.
Três países sob sua responsabilidade.
Remuneração agressiva.
O cliente pediu sigilo absoluto.
Eles querem você.”
Ele leu.
Releu.
E, por um segundo, sentiu o peito inflar com um velho conhecido:
ego travestido de oportunidade.
Respirou.
Olhou em volta:
a mesa de jantar já posta, a esposa na cozinha, o filho assistindo ao mesmo desenho pela terceira vez.
E pensou:
quanto custa, de verdade, uma promoção global?
Respondeu ao headhunter com gentileza:
— “Podemos conversar amanhã pela manhã.”
À noite, comentou com a esposa.
Ela ouviu sem interromper.
Ao final, disse apenas:
— “Se for pra você voltar a dormir com a testa franzida… prefiro que recuse.”
Ele sorriu.
Beijou-lhe a mão.
E respondeu:
— “Hoje… isso também pesa no meu sim.”
No dia seguinte, na call com o headhunter, ouviu todos os argumentos:
crescimento, impacto, visibilidade, bônus em euros.
Mas algo dentro dele seguia quieto demais.
Antes de desligar, disse com sinceridade:
— “Obrigado por lembrar de mim.
Se essa proposta tivesse chegado um ano atrás, eu teria dito sim sem pensar.
Hoje, preciso pensar… antes de dizer sim.”
Mais tarde, mandou uma mensagem curta ao mentor:
“Me ofereceram o mundo de novo.
Mas acho que não quero me perder no mapa.”
A resposta veio duas horas depois.
Com a medida exata.
— “Essa proposta é do tamanho que você merece.
Você já aprendeu a fazer a leitura certa.
Agora sabe que é possível chegar ao topo… sem deixar a alma no meio do caminho.
Liderar com lucidez.
Gerar resultados sem matar sua essência.
E sim — essa montanha de euros pode fazer bem a você e à sua família.
Desde que você suba… com consciência.”
Ele leu.
E ficou em silêncio.
Dessa vez, não por medo.
Mas porque algo dentro dele… começou a sorrir.
O topo não parecia mais um lugar perigoso.
Parecia um lugar possível.
🎬 Capítulo 22 | O SIM COM CONDIÇÃO
Por Aristides Girardi
Sexta-feira, 9h em ponto.
A call estava agendada.
Na tela, três rostos: o headhunter sênior, a diretora global de talentos e o CFO do grupo.
— “Estamos prontos para ouvir sua decisão”, disse o executivo do lado de lá, com sotaque carregado e sorriso discreto.
Ele respirou.
Não por hesitação.
Mas por respeito à jornada que o trouxe até ali.
— “Aceito.”
Pausa.
— “Mas aceito com uma condição.”
As sobrancelhas na tela se ergueram.
— “Quero carta branca para liderar com responsabilidade social e humana.
Quero liberdade para montar um time plural.
E quero espaço para que resultados venham com saúde.
Não me tragam pra ser estrela.
Me tragam pra ser raiz.”
Silêncio.
Depois, a diretora sorriu.
— “Você tem mais do que nossa aprovação.
Você tem nossa expectativa mais nobre.”
Naquela tarde, caminhou sozinho por um parque próximo.
Sem pressa.
O celular tocou.
Era o mentor.
— “E aí?”
— “Disse sim.”
— “Boa escolha.”
— “Mas foi por mim. Não por status.”
— “É assim que os grandes fazem.
E que os inteiros permanecem.”
Ele riu.
E completou:
— “A diferença entre o velho eu e o de agora…
é que antes eu subia correndo.
Hoje, vou subindo… com consciência e vista bonita.”
À noite, sentou-se com a esposa no sofá.
Contou tudo, com calma.
Ela ouviu. Tocou sua mão.
E disse:
— “Acho lindo te ver voar de novo.
Mas mais bonito ainda… é ver que você aprendeu a pousar.”
Em seu caderno preto, ele escreveu:
“Aceitei.
Mas dessa vez, fui eu quem colocou as cláusulas invisíveis do contrato:
Paz. Lucidez. Presença. Amor.”
🎬 Capítulo 23 | O PRIMEIRO ATO
Por Aristides Girardi
Primeira semana na nova posição.
Nova sede, nova equipe, nova vista da cidade.
Ele entrou no andar executivo às 7h46.
Ainda havia silêncio nos corredores.
Mas não dentro da sala onde o problema já o esperava: um dossiê sobre o diretor comercial.
Resultados acima da meta.
Reclamações internas acima da média.
Liderava como um tanque: atropelava, entregava, sufocava.
Era visto por alguns como indispensável.
Por outros, como insuportável.
Às 10h, reunião com o board.
— “Sabemos que ele é agressivo, mas ele entrega”, disse um conselheiro.
Outro completou:
— “Talvez ele só precise de um feedback mais firme.”
O novo CEO ouviu tudo.
Calado.
E depois disse, com calma:
— “O que ele entrega não compensa o que ele tira.”
— “Mas ele trouxe 12% de crescimento num ano crítico”, insistiu um dos diretores.
— “E levou embora três talentos de altíssimo potencial.
Não é só sobre performance. É sobre legado.”
Silêncio.
— “Quero uma liderança que entrega… e que eleva.
Se ele não quiser mudar, vai liderar em outro lugar.
Aqui, não mais.”
Na hora do almoço, almoçou sozinho.
Não por solidão.
Mas por escolha.
Mandou uma mensagem para o mentor:
“Primeiro grande ato: cortei o braço mais forte.
Mas era ele ou a alma da cultura.”
A resposta veio objetiva:
— “É assim que se separa chefia de liderança.
Hoje você não ganhou um aliado.
Mas ganhou o respeito dos que ainda estão aprendendo a confiar em você.”
Na volta pra casa, o filho perguntou:
— “Como foi o seu dia, pai?”
Ele sorriu cansado. Mas verdadeiro.
— “Foi dia de dizer não pra algo que parecia bom…
pra proteger o que é certo.”
No seu caderno, anotou:
“O que protege resultados a qualquer custo…
um dia fatura a falência da confiança.”
🎬 Capítulo 24 | O PALCO DA VERDADE
Por Aristides Girardi
O salão era discreto.
Luxuoso sem ostentação.
Na plateia, não havia aplausos ensaiados —
apenas olhares atentos.
Era um daqueles encontros silenciosos e raros,
onde egos se sentam… para aprender.
Ele subiu ao palco com passos firmes,
mas sem arrogância.
Havia meses que não falava em público.
Mas não era sobre performance.
Era sobre verdade.
Respirou fundo.
Olhou para os lados.
E começou:
— “Il est facile d'oublier ce qui compte vraiment…”
(É fácil esquecer o que realmente importa.)
A plateia se moveu sutilmente.
— “…lorsqu’on est au sommet.”
(…quando se está no topo.)
E então, como quem desarma uma bomba,
ele contou — sem nomes, sem cargos,
mas com alma —
a história de um homem que quase perdeu a si mesmo…
tentando provar que era o melhor.
— “Esse homem… era eu.” — completou, já em português.
E ficou em silêncio por alguns segundos.
Na terceira fileira, um CEO francês — veterano da indústria aeronáutica —
enxugou os olhos discretamente.
Foi nesse instante que ele soube:
não estava mais tentando ser aceito.
Estava abrindo caminho.
— “Hoje, eu entendi que sucesso sem presença
é só um cargo vazio.
E que legado de verdade…
a gente constrói quando volta a ser humano.”
Desceu do palco sob um aplauso curto, mas denso.
Mais do que ouvido, ele foi sentido.
Na saída, o francês se aproximou:
— “Merci. Vous m’avez réveillé…
(Você me despertou…)
…de quelque chose que je n’avais jamais osé regarder.
(…para algo que eu nunca tive coragem de encarar.)”
Ele apenas assentiu.
Afinal, quem tem um mentor…
já aprendeu a deixar o silêncio falar também.
📘 Terceira Temporada 2025
Uma novela corporativa de Aristides Girardi
🎬 Capítulo 25 | O BRINDE INVISÍVEL
Por Aristides Girardi
Já era noite quando ele voltou ao hotel.
Deixou o crachá sobre a mesa,
soltou o nó da gravata
e ficou alguns segundos olhando a cidade pela janela.
Paris parecia menos barulhenta naquele instante.
Talvez porque, dentro dele,
o silêncio finalmente tinha espaço.
No celular, uma mensagem da esposa:
“Quero jantar com você. Mas sem o executivo.”
Ele sorriu.
Sabia exatamente o que aquilo queria dizer.
Duas horas depois, estavam sentados em um bistrô acolhedor no Marais.
Ela pediu vinho.
Ele, água com gás.
Mas o que estava prestes a ser servido…
não estava no cardápio.
— “Faz tempo que não te vejo leve assim.” — ela disse, olhando nos olhos dele.
— “É… faz tempo que não me permitia.” — respondeu.
Ela segurou sua mão.
Ali, não havia números, metas ou fusões.
Havia história.
E amor que resistiu a muitas ausências.
— “Você foi até o limite… mas voltou.” — ela sussurrou.
Ele baixou os olhos, com humildade.
— “Voltei porque encontrei alguém que me ajudou a enxergar.
Um mentor. Um espelho.
Alguém que me lembrou quem eu era antes dos cargos.”
Ela sorriu com ternura.
— “Então brinde a ele também.
Porque graças a esse tal de ‘mentor’…
eu tenho meu marido de volta.”
Ele ergueu a taça invisível,
com um gesto simbólico.
E sentiu, pela primeira vez em anos,
que estava exatamente onde deveria estar.
🎬 Capítulo 26 | O EVERESTporativa do LinkedIn
Por Aristides Girardi
Segunda-feira.
9h42.
Reunião com o comitê global por videoconferência.
Do outro lado da tela: cinco fusos horários, três idiomas e uma só expectativa.
O chairman da holding respirou fundo e foi direto:
— “Queremos que você assuma a liderança da operação multinacional.
São onze países. Três continentes.
Um redesenho completo da estrutura executiva.”
Ele não respondeu de imediato.
Fez o que aprendeu com o mentor:
ouvir até o fim.
Sentir antes de reagir.
Ler além das palavras.
— “É um desafio de construção. Não de controle”, completou o chairman.
— “Queremos cultura, consistência, continuidade.”
Ao desligar, ficou em silêncio.
Não era medo.
Era respeito pelo tamanho do que estava sendo oferecido.
À noite, caminhou sozinho pelas ruas arborizadas do bairro.
Olhou vitrines, cruzou com pessoas apressadas.
Mas ele… andava devagar.
Mandou uma mensagem ao mentor:
“Querem que eu coordene tudo.
Todos os países. Toda a operação.”
A resposta não demorou:
— “Essa missão é para quem não precisa mais provar nada.
Mas quer deixar algo maior do que si.
Se aceitar… vá como ponte.
Não como torre.”
Ele leu.
Parou.
E sorriu.
Sim, poderia dar certo.
Se ele não se esquecesse de tudo o que aprendeu.
Se continuasse com o caderno preto na mala.
E com o coração fora da bolha.
No dia seguinte, respondeu à presidência:
— “Aceito.
Mas quero tempo para ouvir todos os líderes locais.
E liberdade para montar um comitê de cultura transversal.
Não quero implantar um modelo.
Quero construir um elo.”
No caderno, escreveu:
“Talvez esse seja o meu Everest.
Mas dessa vez…
não vou subir sozinho.
E vou respirar em cada acampamento.”
🎬 Capítulo 27 | A PEDRA DO LEGADO
Por Aristides Girardi
O voo foi longo.
Três conexões.
Fuso invertido.
Clima instável.
Mas nada disso importava.
A Nova Zelândia era o primeiro destino oficial da nova missão.
Wellington.
Sede compacta, mas estratégica.
Gente simples.
Equipe enxuta.
E uma operação que resistia com excelência… mas pouca visibilidade.
Ao entrar na unidade, recusou o protocolo.
Nada de tapete vermelho.
Nem café especial.
— “Quero conversar com o time no chão.”
A gerente local arregalou os olhos, surpresa.
Mas sorriu com alívio.
Foram quatro horas de escuta ativa.
Histórias reais.
Desafios logísticos.
Relações com comunidades indígenas.
E um orgulho silencioso por fazer parte de algo maior.
Na saída, já perto do portão,
um técnico de manutenção — provavelmente o mais antigo da casa — se aproximou.
— “Senhor… fiquei sabendo que agora o senhor comanda tudo.
Queria lhe dar isso.”
Era uma pedra pequena, polida.
Na superfície, gravado à mão:
“Haere rā”
(Vá em paz.)
— “É uma tradição maori.
A gente oferece a quem está indo embora…
mas deixou algo bom por aqui.”
Ele ficou parado por um instante.
Segurou a pedra com as duas mãos.
E disse apenas:
— “Obrigado.
Essa vai comigo.
Pra lembrar por quê… e pra quem.”
No carro, a caminho do hotel, mandou uma mensagem curta ao mentor:
“Hoje entendi o que é legado sem slide.
É quando alguém grava seu gesto… numa pedra.”
A resposta veio em seguida:
— “Liderar é isso: ser lembrado… mesmo quando ninguém decorou seu cargo.”
Naquela noite, ao lado do caderno preto no criado-mudo,
a pedra ficou ali.
Silenciosa.
Simbólica.
Como quem guarda o que palavras não alcançam.
🎬 Capítulo 28 | A MESA VIRADA
Por Aristides Girardi
Nova Iorque.
Restaurante privativo, duas estrelas Michelin,
luz baixa, taças alinhadas.
Na mesa, dois acionistas do grupo.
Ambos experientes.
Ambos… ausentes da realidade.
— “O que importa é o resultado trimestral”, dizia um.
— “Cultura é bonito, mas não paga dividendo”, dizia o outro.
Ele ouvia.
Sem interromper.
Até que um deles ironizou:
— “Você fala como coach.
Tem certeza que ainda é CEO?”
O garçom servia o prato principal.
Mas ele não tinha mais apetite.
Colocou os talheres de lado.
Olhou direto nos olhos do acionista.
E respondeu, com voz baixa — mas firme:
— “Tenho certeza de que sou CEO.
Porque eu parei de liderar só com números…
e comecei a liderar com consciência.”
Silêncio.
A frase não virou só a mesa.
Virou o olhar dos dois.
Porque foi dita com verdade.
Não com raiva.
Mais tarde, já no hotel, olhou o calendário.
Era sexta-feira.
Pegou o celular.
Escreveu pra esposa:
“Posso adiantar meu voo?
Quero jantar em casa no domingo.”
A resposta veio com um emoji de coração
e uma frase simples:
— “Te esperamos.”
No aeroporto, horas depois,
já com a passagem remarcada,
olhou para a mala.
Ali dentro, ao lado do notebook, estavam:
✔ o caderno preto
✔ a pedra da Nova Zelândia
✔ e um envelope com o desenho do filho.
Nada disso constava na planilha.
Mas era o que mais importava.
🎬 Capítulo 29 | DE VOLTA AO CENTRO
Por Aristides Girardi
Domingo, 18h12.
O portão abriu devagar.
Ele desligou o carro antes mesmo de estacionar.
Aquela rua, aquele cheiro, aquele céu nublado —
parecia que tudo esperava por ele.
Na varanda, o filho pulou do degrau com um grito:
— “Pai!!!”
Ele ajoelhou antes mesmo do abraço chegar.
E ali, no chão da entrada, sentiu o corpo pequeno colidir com o peito grande…
como se o mundo inteiro voltasse a caber nos braços.
A esposa surgiu na porta.
Cabelo preso, sorriso leve, olhos cheios.
— “Bem-vindo de volta, CEO de verdade.”
Ele riu.
Não respondeu.
Apenas a abraçou com a ternura de quem foi longe…
mas nunca se perdeu.
Na sala, ainda de malas fechadas,
entregou ao filho a pedra da Nova Zelândia.
— “É um presente.
Pra você lembrar que a gente pode ser forte…
sem machucar ninguém.”
O menino segurou como se fosse um troféu.
E correu pra guardar no quarto.
Na cozinha, durante o jantar,
sem pauta, sem relógio, sem ruído de notificações,
a esposa perguntou:
— “E aí… sentiu falta disso tudo?”
Ele sorriu.
— “Não.
Porque eu carreguei tudo isso comigo…
em cada decisão.”
Antes de dormir, foi até a varanda.
O céu estava limpo.
A cidade, em silêncio.
Abriu o caderno preto.
E escreveu:
“Viajei por três continentes.
Decidi destinos.
Reposicionei empresas.
Mas nada se compara a estar aqui…
inteiro, presente, em paz.”
🎬 Capítulo 30 | A REUNIÃO NA ESCOLA Por Aristides Girardi
Quarta-feira, 10h38.
Ligação inesperada.
— “Sr. Eduardo, o João teve um pequeno desentendimento com outro aluno.
Seria possível conversarmos pessoalmente?”
Ele olhou para a agenda: quatro reuniões, uma entrega pendente, um call internacional.
Respirou fundo.
— “Chego em vinte minutos.”
Na sala da coordenação, encontrou o filho cabisbaixo.
Ao lado, uma professora jovem e a coordenadora experiente.
— “Pelo que ouvimos, o João empurrou o colega depois de ser chamado de ‘metido’.
Nada grave, mas achamos importante conversar.”
O garoto, envergonhado, sussurrou:
— “Ele falou que eu fico me achando porque você viaja muito.
Eu só disse que você é importante.
Não queria brigar. Mas me deu raiva.”
Silêncio.
O executivo se abaixou, ficando na altura dos olhos do filho.
— “João, você sabe o que o pai faz?”
— “Você trabalha. Muito.”
— “E sabe por que eu trabalho?”
— “Pra cuidar da gente.”
Ele sorriu. Depois, ficou sério.
— “Ser importante não é viajar ou ter cargo.
É sobre como tratamos os outros.
Mesmo quando nos provocam.”
A coordenadora observava em silêncio.
Por fim, disse com suavidade:
— “Nem todos os pais vêm quando chamamos.
E quase nenhum se abaixa até o chão… para conversar de igual.”
Na saída, o filho apertou forte sua mão.
E confidenciou:
— “Pai, às vezes eu falo de você pros meus amigos…
porque quero que eles saibam que você existe de verdade.”
Ele não respondeu.
Apenas engoliu fundo.
E entendeu, ali, o peso e a beleza de ser espelho.
À noite, no caderno preto, escreveu:
“Liderar uma empresa é difícil.
Mas liderar os olhos de um filho…
é o que me mantém inteiro.”
🎬 Capítulo 31 | O ESPELHO DO PASSADO
Por Aristides Girardi
Quinta-feira.
23h14.
O celular vibrou com uma notificação discreta:
mensagem direta no LinkedIn.
O nome na tela o fez parar.
Era um ex-colega de anos atrás.
Alguém que, na época, parecia invencível:
carro blindado, ego turbinado, reuniões cheias e alma vazia.
“Preciso falar com você.
Não sei nem por onde começar.
Mas se puder me escutar, já ajuda.”
Ele ficou olhando para a tela por alguns segundos.
Não havia mágoa, nem saudade.
Havia algo maior: reconhecimento.
No dia seguinte, marcaram uma call.
O ex-colega apareceu com o rosto abatido.
Nada de fundo de escritório.
Apenas uma parede branca e olhos vermelhos.
— “Estou no limite.
Já mudei três vezes de país nos últimos quatro anos.
Meus filhos não sabem mais onde é casa.
Minha esposa tá exausta.
E eu…
eu não me reconheço mais.”
Silêncio.
Ele ouviu tudo.
Sem pressa.
Sem conselhos prontos.
Quando chegou sua vez de falar, disse com voz baixa:
— “Eu já estive aí.
Nesse ponto cego.
E se você está me procurando…
é porque seu grito silencioso ainda tem eco.
Isso é bom.”
O outro respirou fundo,
como quem ouve algo que o corpo precisava há muito tempo.
— “Você conseguiu sair, né?”
— “Sim.
Mas precisei reaprender a caminhar.
Com menos pressa.
Com mais verdade.
E com um mentor ao lado.”
O silêncio do outro lado da linha…
não era mais vazio.
Era reflexivo.
— “Será que ainda dá tempo?”
— “Sempre dá.
Desde que você esteja disposto a voltar a ser inteiro…
antes de querer ser grande de novo.”
Naquela noite, ele mandou uma mensagem curta ao mentor:
“Hoje reconheci em outro… o homem que eu fui.
E senti orgulho do que me tornei.”
A resposta veio como sempre:
— “É assim que sabemos que amadurecemos:
quando deixamos de competir com os outros…
e começamos a curar quem ainda não teve o encontro que tivemos.”
🎬 Capítulo 32 | O COQUETEL
Por Aristides Girardi
Hotel cinco estrelas.
Tapete espesso.
Lustres reluzentes como egos bem polidos.
Era o evento anual de uma das maiores consultorias do mundo.
Ele foi convidado como presença ilustre.
Agora, CEO global.
Referência de reposicionamento.
Mas não foi sozinho.
Chegou com a esposa. De mãos dadas.
Alguns olhares discretos.
Outros, nem tanto.
— “Esse é o Eduardo, lembra?
Agora virou ‘guru da liderança consciente’...” — cochichou um executivo à taça de champanhe.
Ele ouviu.
E sorriu por dentro.
No salão, reencontros com colegas antigos.
Sorrisos apertados.
Conversas de networking disfarçadas de nostalgia.
Mas o que mais lhe chamou atenção não foi o brilho das gravatas…
foi o cansaço nos olhos de alguns.
Um deles, ex-diretor de uma multinacional europeia, se aproximou com entusiasmo forçado:
— “E aí, meu velho! Tá voando, hein?
Vi que andou pela Nova Zelândia… Canadá… Paris…
Coisa linda!
E o que tem feito pra manter o ritmo?”
Ele respondeu, com simplicidade:
— “Dormido bem.
Caminhado com meu filho.
E dito mais não do que sim.”
O outro sorriu amarelo.
Tomou o restante do vinho de uma vez.
E desviou para outro grupo.
A esposa o olhou com delicadeza:
— “Você percebe que o mais bonito aqui hoje…
é o que você não está tentando provar?”
Ele segurou sua mão.
Com força suave.
E disse:
— “Não vim pra impressionar.
Vim pra lembrar quem eu sou… mesmo em meio a tanta performance.”
Na saída, recusou o carro executivo.
Foram a pé até o hotel a três quadras dali.
Chuva fina.
Sapatos molhados.
E uma leveza na alma que não se compra com bônus anual.
No quarto, anotou no caderno preto:
“A reputação é barulhenta.
Mas a paz…
é silenciosa, íntima e verdadeira.”
🎬 Capítulo 33 | A SEMANA DA GENTILEZA
Por Aristides Girardi
Domingo à tarde.
Chuva fina no quintal.
Lá dentro, cheiro de bolo e o som de uma panela de pressão.
O filho entrou na sala com um papel dobrado nas mãos.
Olhos sérios, voz contida.
— “Pai… fui escolhido pra falar no encerramento da semana da gentileza lá na escola.
Só que tem que ser algo de verdade.
E eu não quero copiar da internet.”
Ele olhou para o menino.
Não como um CEO.
Mas como quem carrega uma dívida com o próprio passado…
e vê ali a chance de fazer tudo diferente.
Sentou no chão.
Puxou o filho pra perto.
E perguntou:
— “O que é gentileza pra você?”
— “É quando você ajuda alguém…
mas sem querer aparecer.”
Silêncio.
Ele respirou fundo.
A frase parecia simples.
Mas doía — de tão necessária.
— “E você quer que seu texto fale disso?”
— “Quero.
Quero que as pessoas entendam…
que tem coisa que a gente faz… e nem precisa contar.”
Ele sorriu.
Ali, naquele tapete com carrinhos espalhados,
recebia sua maior entrega do trimestre.
Pegou uma folha em branco.
E escreveu junto com o filho:
“Gentileza não é quando você posta.
É quando ninguém vê.
É quando você escuta, mesmo sem tempo.
É quando você deixa alguém passar na frente…
mesmo que esteja com pressa.
Ser gentil não é ser bobo.
É ser forte o bastante… pra não ser duro.”
Na manhã seguinte, ele assistiu de pé ao discurso.
Atrás da arquibancada.
Em silêncio.
Ao final, não houve aplauso ensaiado.
Houve olhos molhados de professores.
E um menino descendo do palco… com a alma limpa.
De volta ao trabalho, ele escreveu no caderno preto:
“Hoje fui mentor.
De alguém que não quer cargo.
Só quer crescer…
sem se perder no caminho.”
🎬 Capítulo 34 | O FUTURO DO TRABALHO
Por Aristides Girardi
Convite aceito.
Evento fechado.
Auditório em São Paulo.
Plateia de executivos, investidores, consultores.
Tema: O Futuro do Trabalho.
Expectativa: projeções, IA, fusões, automação.
Mas ele… decidiu começar diferente.
Respirou fundo.
Tocou o microfone.
E disse:
— “Antes de falar do futuro do trabalho…
Quero contar como quase perdi meu filho…
Estando todos os dias em casa.”
Silêncio.
— “Eu estava.
Mas não era.
Fazia home office, reuniões globais, calls noturnos, relatórios.
Dizia que estava presente.
Mas era ausência disfarçada de agenda cheia.
Até que um dia, ele me olhou no meio do jantar…
e perguntou:
‘Pai, quando você vai voltar a brincar comigo como antes?’”
Alguém na segunda fileira abaixou os olhos.
Ele continuou:
— “Ali, eu percebi que o futuro do trabalho
não é sobre onde a gente trabalha.
É sobre o que a gente está deixando de viver…
enquanto trabalha.”
A plateia não esperava aquilo.
Alguns tentaram conferir o crachá.
Outros pensaram nos próprios filhos.
Na própria história.
Na própria ausência.
Ele então abriu o caderno preto.
E leu em voz firme:
“O verdadeiro futuro do trabalho é quando a gente aprende
a produzir sem se destruir.
A crescer… sem encolher o coração.
A liderar… sem perder de vista o espelho.”
Pausa.
— “Depois que comecei a ouvir meu filho, minha esposa, meu corpo…
voltei a ouvir meu time.
E os resultados melhoraram.
Porque alta performance…
não é apertar mais.
É afinar melhor.”
Ao sair do palco, um senhor de cabelos brancos se aproximou:
— “Faz 30 anos que vou a eventos assim.
Mas é a primeira vez que escutei alguém falar sobre sucesso…
sem parecer um vendedor de promessas.”
Ele sorriu.
E respondeu com humildade:
— “É que eu não vim vender nada.
Só dividir o que aprendi…
quando quase perdi tudo.”
🎬 Capítulo 35 | O ABRAÇO EM TORONTO Por Aristides Girardi
Toronto.
Domingo, 16h18.
Portas automáticas se abriram no saguão internacional.
E antes que ele pudesse ajeitar a mala, ouviu:
— “Pai!!!”
O filho correu, derrubando a mochila no caminho.
Ele ajoelhou no meio do aeroporto lotado.
E ali, sem filtro, sem KPI, sem protocolo…
sentiu o abraço que nenhum relatório mensura.
Ficaram alguns segundos assim.
Como quem pausa o tempo pra lembrar do que importa.
A esposa chegou logo depois, com um sorriso que valia mais do que bônus.
— “Bem-vindo à parte da sua vida que não pede apresentação em PowerPoint.”
Ele sorriu. Ali estava inteiro.
—
Na noite seguinte, jantar em um rooftop com investidores canadenses.
Vista ampla, pratos minimalistas, expectativas grandes.
Um dos investidores perguntou:
— “Como pretende equilibrar resultados agressivos e cultura saudável?”
Ele respirou.
E respondeu com sinceridade:
— “Eu lidero uma máquina que imprime bilhões.
Mas quando desligo o computador, tenho que continuar imprimindo presença…
na vida de quem me espera em casa.
Se eu falhar nisso, vou falhar no que vocês mais querem: continuidade.”
Silêncio elegante.
Outro investidor sorriu, surpreso:
— “Nunca ouvi um CEO global falar de equilíbrio… como estratégia.”
Ele apenas completou:
— “Porque equilíbrio não é luxo. É blindagem emocional.
E no fim, empresas sólidas são feitas por líderes inteiros.”
—
No hotel, antes de dormir, anotou no caderno preto:
“Tem coisas que não cabem em gráfico.
Mas sustentam toda a curva de crescimento.
O abraço do meu filho é uma delas.”
🎬 Capítulo 36 | A ESCOLHA EM TORONTO
Por Aristides Girardi
Quarta-feira, 19h02.
Toronto, 3 graus.
A notificação piscou no celular:
“Board meeting antecipada. 19h30. Participação mandatória.”
Na outra sala do restaurante, a equipe local o aguardava para um jantar simples.
Nada de terno. Só camisetas, sotaques diferentes e histórias do chão da fábrica.
Ele respirou fundo.
Era o tipo de dilema que a alta gestão não ensina a resolver com algoritmo:
⚖️ Ficar e construir confiança silenciosa com o time local…
ou entrar na call global para repetir as mesmas projeções trimestrais?
Fez o que seu instinto — e o mentor — ensinaram.
Mandou uma mensagem ao chairman:
“Hoje não participo.
Estou onde minha liderança precisa estar.
Os números, amanhã, estarão prontos.
Mas a cultura… precisa de mim agora.”
Silêncio.
Nenhuma resposta.
Ele guardou o celular e puxou a cadeira ao lado da gerente de operações.
— “Vocês preferem falar sobre o que já deu errado… ou sobre o que ainda dá pra fazer certo?”
Sorrisos discretos começaram a surgir.
Conversas reais preencheram o jantar.
E ali, entre batatas rústicas e refrigerantes, ele viu algo que call nenhuma mostraria:
pessoas querendo pertencer — não apenas obedecer.
—
Na madrugada, ao revisar os e-mails, a resposta do chairman estava lá:
“Liderar não é comparecer a todas as reuniões.
É saber onde sua ausência faz mais diferença.”
Ele sorriu.
E no caderno preto, anotou:
“Hoje eu faltei onde podia faltar.
E estive presente onde não podia faltar mais.”
🎬 Capítulo 37 | TORONTO 21:03
Por Aristides Girardi
O jantar com o time havia terminado mais cedo.
Ele voltou caminhando até o hotel.
As ruas estavam molhadas da neve derretida,
mas sua mente estava clara como há muito não ficava.
No lobby, um jovem analista que também participara do encontro se aproximou, tímido:
— “Posso perguntar uma coisa?”
Ele sorriu:
— “Claro.”
— “Como o senhor aguenta?
Quero dizer… tanta pressão, tanta cobrança,
e ainda conseguir olhar a gente como se tivesse tempo?”
Silêncio.
Ele não tinha resposta pronta.
Mas aprendeu que, às vezes, o silêncio também educa.
Depois de alguns segundos, disse:
— “Não aguento sempre.
E nem tento fingir que consigo.
O que eu faço é escolher onde coloco minha presença.
Porque não dá pra estar inteiro em todos os lugares.
Mas dá pra ser inteiro… no lugar certo.”
O rapaz assentiu.
E saiu com os olhos mais serenos do que quando chegou.
No elevador, sozinho, ele pensou:
“A nova geração não precisa de líderes perfeitos.
Precisa de líderes que tenham coragem de admitir seus limites.”
No quarto, antes de dormir, escreveu no caderno preto:
“Hoje aprendi que inspirar não é carregar todos.
É carregar o suficiente para que eles percebam
que também podem caminhar por conta própria.”
🎬 Capítulo 38 | A FALHA NO PALCO
Por Aristides Girardi
Sábado, 10h.
Universidade de Toronto.
Auditório cheio.
Evento sobre liderança global e transformação cultural.
No meio da plateia, discretamente, o filho sentado ao lado da esposa.
Orgulhoso. Atento.
Ele subiu ao palco com segurança.
Mas no terceiro slide, a conexão falhou.
O controle remoto travou.
E, por alguns segundos, o silêncio tomou conta.
As palavras sumiram da mente.
Ele respirou fundo.
Olhou para o público.
E, pela primeira vez em muito tempo, sorriu sem script:
— “Desculpem.
Hoje, nem o CEO escapa das falhas técnicas.”
A plateia riu.
A tensão quebrou.
Ele continuou a palestra sem slides,
apenas com histórias e verdades que o PowerPoint não mostraria.
Falou sobre vulnerabilidade, sobre escuta, sobre liderança que acolhe.
E quando terminou, não houve standing ovation.
Mas houve algo melhor:
gente pensando.
—
Ao sair do palco, o filho correu até ele:
— “Pai, achei legal você esquecer o que ia falar.”
— “Legal?” — ele sorriu, surpreso.
— “Sim. Porque ficou mais de verdade.”
Ele se abaixou, abraçou o filho e disse:
— “Obrigado por me lembrar que ser verdadeiro vale mais do que parecer perfeito.”
—
Na volta ao hotel, anotou no caderno preto:
“Hoje eu errei.
E foi o erro mais humano que já cometi em muito tempo.
Porque, às vezes, a falha conecta mais do que o acerto.”
🎬 Capítulo 39 | O BÔNUS RECUSADO
Por Aristides Girardi
Terça-feira, 7h47.
Reunião reservada com o fundo de investimentos majoritário.
Sala fechada. Clima cirúrgico.
O managing partner foi direto:
— “Temos uma proposta.
Dobro do seu bônus anual.
Desde que você acelere o corte de despesas nas operações emergentes.
Precisamos enxugar 15% do headcount… antes do fechamento do trimestre.”
Ele ouviu.
Sem reação aparente.
— “Entendemos que algumas demissões serão impopulares.
Mas o mercado gosta disso.
E, sinceramente, sua remuneração vai refletir essa coragem.”
Silêncio.
Ele respirou fundo.
E respondeu sem elevar a voz:
— “Coragem não é cortar onde é mais fácil.
É sustentar onde é mais difícil.
Se eu ceder hoje pelo bônus, amanhã não terei cultura pra sustentar os resultados.
Prefiro manter pessoas comprometidas… do que números que não se sustentam.”
O sócio franziu a testa.
— “Está recusando um bônus milionário?”
Ele sorriu de leve:
— “Estou protegendo algo maior.
Porque lucro sustentável não se constrói com medo.
Se quiserem me trocar… fiquem à vontade.
Mas não contem comigo pra liderar uma cultura que sacrifica o futuro pelo trimestre.”
Silêncio denso.
—
Horas depois, caminhando sozinho pelas ruas frias de Toronto,
ele mandou uma mensagem curta ao mentor:
“Me ofereceram milhões para calar minha consciência.
Mas não aceitei.”
A resposta veio breve, mas precisa:
— “O verdadeiro valor do líder…
não está no que ele aceita.
Está no que ele recusa.”
—
Naquela noite, anotou no caderno preto:
“Hoje deixei de ganhar dinheiro.
Mas garanti algo que não tem preço:
a minha paz.”
🎬 Capítulo 40 | O BRINDE INVISÍVEL
Por Aristides Girardi
Domingo, 22h15.
Última noite em Toronto.
No quarto do hotel, luz baixa e silêncio.
A esposa fechou o notebook dele com um gesto suave:
— “Chega por hoje.
Tem um mundo lá fora esperando o seu tempo.”
Ele sorriu.
Levantou-se devagar.
Na sacada, a neve caía leve, como quem cobre o ruído do mundo.
Ela trouxe duas taças simples.
Nada de champagne.
Apenas água com gás e limão.
— “Brindamos o quê?” — ela perguntou, com olhar brincalhão.
Ele pensou por um instante.
— “Brindamos o que ninguém vê.
O que não está nos relatórios.
O que sustenta tudo, mesmo quando ninguém aplaude.”
Ela sorriu, encostando a taça na dele.
— “Então brindamos a nós.”
—
Na manhã seguinte, voo de volta.
Ele guardou o caderno preto na mala,
junto da pedra da Nova Zelândia e do desenho do filho.
Na última página que escreveu antes de partir, deixou registrado:
“Hoje brindei ao invisível.
Àquilo que mantém o brilho do que realmente importa,
mesmo quando ninguém está olhando.”
🎬 Capítulo 41 | O SILÊNCIO DA PROMOÇÃO
Por Aristides Girardi
Segunda-feira, 6h27.
Sala VIP do aeroporto de Guarulhos.
No telão, Londres aparecia como próximo destino.
No celular, a notificação de sempre: nada.
Ele havia esperado semanas por aquele e-mail.
A promoção prometida, sussurrada nos corredores do board, discutida em calls discretas.
Nada. Nenhuma confirmação. Nenhum “sim”.
Só o silêncio.
O tipo de silêncio que pesa mais do que um “não” direto.
Ele respirou fundo, fechou o notebook e pensou:
“Talvez o silêncio seja a resposta mais cruel…
porque deixa a esperança viva… e a clareza morta.”
—
Durante o voo, revisou mentalmente todos os entregáveis.
Superou metas.
Manteve o time coeso.
Protegeu a cultura.
Reduziu riscos.
Mas ali, a 10 mil metros do chão, entendeu algo simples:
Resultado não garante reconhecimento.
Entrega não garante promoção.
E quem espera demais, às vezes, esquece que pode criar um novo caminho… sem esperar permissão.
—
Ao pousar em Londres, mandou uma mensagem ao mentor:
“Esperei. E esperei.
Mas o e-mail não veio.
Talvez esteja na hora do plano B.”
A resposta veio, como sempre, na medida:
— “A promoção não chegou.
Mas você chegou onde a maioria não tem coragem de ir:
o ponto onde a espera cansa e a decisão nasce.”
Ele leu.
Sorriu de leve.
E pediu um café forte no aeroporto.
O dia estava apenas começando.
—
Na noite londrina, enquanto caminhava sozinho pela Trafalgar Square, escreveu no caderno preto:
“Quando o convite não vem…
a gente cria o próprio palco.”
🎬 Capítulo 42 | FEEDBACK EM LONDRES
Por Aristides Girardi
Londres.
Terça-feira, 15h48.
No alto do Shard, um dos prédios mais icônicos da cidade, uma sala de vidro abrigava o encontro.
Do outro lado da mesa, ela: coach global de CEOs.
Reconhecida, direta, sem rodeios.
Ele a conhecia apenas por artigos e palestras.
Agora, estava frente a frente.
Sem apresentações longas, ela foi direto ao ponto:
— “Li sobre você. Estudei seu histórico.
Você entrega. Os números falam por si.
Mas vou te dizer o que ninguém do seu board tem coragem de dizer:
Você lidera…
mas não inspira.
É admirado.
Mas não é seguido por escolha.
É respeitado… pela sua entrega.
Mas não pela sua presença.”
Silêncio.
Ele ficou imóvel por alguns segundos.
Ali, no alto de Londres, entre a cidade e o céu, recebia um dos feedbacks mais duros da sua carreira.
Ela continuou:
— “O mundo já tem números demais.
Mas carece de líderes humanos.
Você quer ser lembrado por quanto lucrou…
ou por quem você libertou?”
—
Na saída do prédio, o vento gelado não doía mais do que aquelas palavras.
Ele sentou-se em um banco da beira do Tâmisa, pegou o celular e escreveu ao mentor:
“Hoje ouvi o que ninguém teve coragem de dizer.
Doeu.
Mas precisava.”
A resposta, sem floreios:
— “Feedback que dói… é espelho sem maquiagem.
Quem foge dele… repete seus erros em silêncio.
Quem encara… constrói um legado sem precisar gritar.”
—
À noite, no hotel, escreveu no caderno preto:
“Hoje entendi que performance te coloca no palco.
Mas é a presença que mantém a plateia de pé.”
📘 Quarta Temporada 2025
Uma novela corporativa de Aristides Girardi
🎬 Capítulo 43 | O ENCONTRO EM DUBAI
Por Aristides Girardi
Quinta-feira, 18h11.
Dubai, 38 graus.
Entre arranha-céus e supercarros, ele caminhava até o lounge do hotel, onde aconteceria o jantar corporativo.
Mas antes, parou em um café discreto.
Pediu um banana shake, sem açúcar.
Nem todo CEO precisa sustentar a pose com café amargo.
Ali, sentado sozinho, foi surpreendido por uma voz familiar:
— “Eduardo?”
Era um antigo colega, hoje CFO de uma multinacional de tecnologia.
Sorriso forçado, olheiras escondidas por trás de um relógio de luxo.
Conversaram alguns minutos sobre negócios.
Mas logo a máscara caiu.
— “Preciso te falar uma coisa…
Tô cansado.
Ganhei tudo o que queria: bônus, stock options, viagens de primeira classe.
Mas hoje… eu trocaria tudo por uma semana sem ter que provar nada pra ninguém.”
Pausa longa.
Ele ouviu.
Como sempre fazia.
O CFO baixou o olhar e confessou:
— “Tem dias que eu penso em largar tudo.
Sumir no deserto.
Abrir um café no interior da Itália.
Só pra lembrar quem eu era antes desse crachá dourado.”
Ele respirou fundo.
— “Você não precisa largar tudo pra reencontrar sua paz.
Só precisa parar de buscar fora… o que só vai encontrar dentro.”
O CFO sorriu sem graça:
— “Isso foi coaching barato ou sabedoria vivida?”
Ele respondeu com sinceridade:
— “Foi alguém que já se perdeu tentando responder isso…
e só encontrou a resposta quando ouviu o próprio silêncio.”
—
Na volta para o hotel, mandou uma mensagem curta ao mentor:
“Hoje encontrei um velho amigo,
e vi nele o burnout que um dia me abraçou.
Dessa vez, fui eu quem estendeu a mão.”
A resposta veio como sempre:
— “Alguns encontros não são coincidência.
São lembretes… de quem você já foi.
E de quem não precisa voltar a ser.”
—
Na noite árabe, entre luzes douradas e um céu limpo, ele escreveu no caderno preto:
“Dubai me lembrou:
nenhuma fortuna apaga a ausência de paz.”
🎬 Capítulo 44 | O PLANO B EM FRANKFURT
Por Aristides Girardi
Sábado, 22h17.
Frankfurt Airport Lounge.
Voo atrasado.
Clima frio lá fora.
E um silêncio incômodo entre os passageiros que olhavam seus notebooks como se buscassem respostas nos gráficos.
Ele pediu um espresso duplo.
Sentou-se num canto discreto.
Minutos depois, um rosto conhecido pediu licença e sentou à frente:
— “Lembra de mim?”
Era um C-Level de uma indústria global.
Anos no mesmo grupo.
Superou metas, entregou fusões, protegeu equipes, esperou a promoção prometida.
E ela nunca veio.
— “Achei que meu dia ia chegar.
Mas aqui, a fila não anda.
Só muda quem tem sobrenome ou padrinho no board.”
Ele ouviu.
Sem julgar.
— “E agora?” — perguntou.
O outro sorriu de lado:
— “Acionei o plano B.
Semana que vem apresento meu pedido de demissão.
Vou montar minha consultoria.
Chega de esperar permissão pra crescer.”
Pausa.
Ele respirou fundo.
— “E não dá medo?”
O C-Level respondeu sem hesitar:
— “Medo dá.
Mas dói menos do que continuar esperando quem não quer te ver crescer.”
—
No voo, horas depois, ele escreveu ao mentor:
“Hoje vi um executivo cansado de ser eterno segundo lugar.
Decidiu virar dono da própria corrida.
E eu… admiro quem tem coragem de largar a pista… quando o pódio é só ilusão.”
A resposta veio rápida:
— “Alguns C-Levels se perdem esperando reconhecimento.
Outros se encontram… quando decidem parar de esperar.”
—
No caderno preto, já no hotel em Frankfurt, ele anotou:
“Esperar demais é virar refém do silêncio alheio.
Hoje aprendi que o plano B, às vezes, é o verdadeiro plano A.”
🎬 Capítulo 45 | O CONFLITO NO CONSELHO
Por Aristides Girardi
Terça-feira, 11h47.
São Paulo.
Reunião do conselho deliberativo.
Mesa oval. Relatórios distribuídos. Gravatas apertadas.
O tema: reinvestir no crescimento da operação LATAM… ou priorizar dividendos rápidos.
Ele defendeu o óbvio para quem enxerga longe:
— “A América Latina não é risco.
É oportunidade subexplorada.
Reduzir agora é amputar o crescimento futuro.”
Olhares cruzados.
O chairman europeu retrucou:
— “Crescimento sem previsibilidade é poesia corporativa.
Queremos números. Não utopia.”
Outro conselheiro, do setor financeiro, completou:
— “Não podemos sacrificar o trimestre por uma promessa de longo prazo.”
Silêncio cortante.
Ele respirou fundo.
— “Vocês me contrataram pra gerar valor.
E valor não se constrói com cortes apressados.
Se querem alguém pra proteger apenas o trimestre,
estou no lugar errado.”
A tensão na sala se tornou palpável.
Ninguém sorriu.
Ninguém aplaudiu.
Mas naquele instante, ele soube:
disse o que precisava ser dito.
Mesmo que perdesse aliados.
—
No elevador, sozinho, escreveu ao mentor:
“Hoje não ganhei o consenso.
Mas ganhei algo mais raro:
mantive minha coerência… intacta.”
A resposta veio, como sempre, cirúrgica:
— “Liderar nem sempre é unir opiniões.
Às vezes é ser a única voz que não vende a alma pela maioria.”
—
No caderno preto, anotou ao final do dia:
“Quem teme o conflito…
lidera pela metade.”
🎬 Capítulo 46 | O DIA ANÔNIMO
Por Aristides Girardi
Sexta-feira, 16h02.
Buenos Aires.
Pela primeira vez em meses…
sem reuniões, sem calls, sem check-in executivo.
Apenas ele, um jeans surrado, tênis e uma tarde livre.
Caminhou pela Recoleta sem agenda.
Tomou um café em San Telmo sem que ninguém o interrompesse.
E, no meio do silêncio, percebeu:
— “Aqui, ninguém sabe quem eu sou.
E, curiosamente… é onde mais me reconheço.”
No banco da Plaza Francia, um grupo de jovens discutia projetos sociais.
Ninguém falava de valuation.
Ninguém falava de IPO.
Ele sorriu.
Ali, onde o crachá não valia nada,
sentiu o peso do que vinha carregando sem perceber.
—
Mais tarde, caminhando pela Calle Defensa,
entrou em uma livraria antiga.
Folheou biografias de gente que mudou o mundo…
sem LinkedIn, sem mídia, sem palco.
Pegou um caderno novo.
Negro, capa dura.
Como o seu.
Pagou em pesos, com um sorriso leve.
Na saída, mandou uma mensagem ao mentor:
“Hoje ninguém me reconheceu.
E foi o dia mais leve do mês.”
A resposta veio como quem já conhecia aquela sensação:
— “Às vezes é preciso perder o crachá…
pra reencontrar a alma que ele cobre.”
—
Na noite fria, no quarto simples de um hotel discreto,
ele abriu o novo caderno e escreveu:
“Quando ninguém sabe quem você é…
você lembra quem sempre foi.”
🎬 Capítulo 47 | O TAPA DA REALIDADE
Por Aristides Girardi
Segunda-feira, Zurique, 9h15.
Clínica discreta no centro financeiro da cidade.
Ambiente silencioso. Precisão suíça até nos segundos do relógio.
Check-up completo.
Mais um protocolo que ele vinha adiando há meses.
O médico, sério e direto, terminou a consulta com uma frase que não estava no exame de sangue:
— “Sua mente chegou onde queria.
Mas seu corpo… está pagando sozinho essa conta.”
Ele ficou em silêncio.
O médico continuou:
— “Executivos como você resistem a tudo.
Menos ao próprio excesso.
Hoje é só fadiga e alteração hormonal.
Amanhã pode ser algo que nem o seu crachá resolve.”
Sem drama. Sem pânico. Apenas a frieza que salva vidas.
—
Na saída, caminhou pela Bahnhofstrasse.
As vitrines de relógios milionários lhe pareceram irônicas.
Porque tempo, naquele momento, valia mais do que qualquer Rolex.
Mandou uma mensagem ao mentor:
“Hoje levei um tapa da realidade.
Percebi que liderar minha saúde vale mais do que liderar qualquer conglomerado.”
A resposta, curta e precisa:
— “Não adianta cuidar do legado…
se esquecer de proteger quem carrega o legado.”
—
Na varanda do hotel, vendo os Alpes ao longe, escreveu no caderno preto:
“Resultados sem saúde…
viram estatística precoce.”
🎬 Capítulo 48 | O VAZIO NO TOPO
Por Aristides Girardi
Quinta-feira, 23h41.
Nova Iorque.
Cobertura do hotel, vista para o Central Park.
Na mesa, dois contratos globais assinados naquela tarde.
Dois marcos que, anos atrás, ele comemoraria com euforia.
Mas naquela noite… não havia comemoração.
Só um silêncio que a cidade não conseguia preencher.
Ligou a televisão, desligou.
Abriu o notebook, fechou.
Mexeu no celular, bloqueou a tela.
Ficou ali, parado, com o olhar perdido nas luzes da cidade.
E pensou:
“Conquistei o que queria.
Mas em que momento parei de sentir alegria por isso?”
—
Pegou o celular e escreveu ao mentor:
“Hoje assinei contratos milionários.
Mas nenhum deles me trouxe paz.”
A resposta não demorou:
— “O vazio não vem da falta de conquistas.
Vem da ausência de sentido.
Às vezes, a conta bancária cresce…
e o coração encolhe.”
Ele sorriu com tristeza.
E anotou no caderno preto:
“Hoje aprendi que o topo da montanha não tem multidão.
E que, se eu não levar propósito comigo…
chego lá sozinho.”
—
Na madrugada silenciosa, decidiu:
Na manhã seguinte, pegaria o primeiro voo para casa.
Porque, às vezes, a maior viagem…
é o retorno pra onde faz sentido estar.
🎬 Capítulo 49 | O ESPELHO DA EXAUSTÃO
Por Aristides Girardi
Segunda-feira, 8h45.
De volta a São Paulo.
Reunião matinal com um executivo local, vice-presidente de operações de uma grande indústria.
Na tela, um homem visivelmente esgotado.
Olhos fundos, discurso desconectado da própria trajetória.
— “Sinto que perdi a mão.
O time não confia mais.
E eu… nem sei se ainda acredito no que faço.”
Ele ouviu em silêncio.
Por dentro, reconheceu aquela sensação.
Porque já tinha estado lá:
no ponto em que a liderança pesa mais do que realiza.
Respirou fundo e perguntou:
— “Você sabe o que te trouxe até aqui?”
O executivo hesitou.
— “Resultados?”
Ele sorriu com leveza:
— “Não só. Foi sua capacidade de resistir…
mas também sua coragem de buscar ajuda agora.
Resultados te trouxeram visibilidade.
Mas só a lucidez vai te manter inteiro.”
Pausa.
— “Você não está falhando.
Está apenas esgotado.
E ninguém lidera direito quando esquece de si no processo.”
Do outro lado da tela, um silêncio mais leve.
—
Ao encerrar a call, ficou alguns minutos olhando a cidade pela janela.
Pensou em quantos líderes, todos os dias, atravessam crises solitárias…
escondidas por trás de títulos brilhantes.
Naquele instante, sentiu que sua missão seguia viva:
não era sobre salvar empresas.
Era sobre lembrar pessoas do que realmente importa.
Dessa vez, não precisou abrir o caderno preto.
O dia não terminou pesado.
Terminou pleno.
Porque às vezes, ajudar alguém…
é o que nos salva também.
🎬 Capítulo 50 | O PALCO DA CASA
Por Aristides Girardi
Sábado, 19h28.
De volta a casa.
Dessa vez, sem reuniões agendadas.
Sem malas esperando na porta.
Na sala, a esposa ajeitava o cabelo diante do espelho.
O filho, empolgado, calçava os tênis:
— “Vamos, pai! O musical começa às oito!”
Era noite de teatro.
Musical infantil, daqueles que fazem adultos rirem escondido.
Na plateia, ele se pegou sorrindo.
Sem precisar disfarçar.
Sem peso nos ombros.
Sem notificações apitando no bolso.
Apenas presente.
—
No domingo, escolheram um restaurante novo, sem reservas formais.
Mesa ao ar livre, pratos coloridos, gargalhadas leves.
Falavam de tudo.
Menos de trabalho.
Ali, naquela simplicidade, estava a verdadeira recompensa da semana.
—
À noite, sentado ao lado da esposa na varanda, disse com serenidade:
— “Esta semana… não irei viajar.”
Ela sorriu, encostando a cabeça em seu ombro:
— “Finalmente alguém decidiu liderar o próprio tempo.”
Ele riu.
E ali, sob o céu silencioso da cidade, soube:
nem todo sucesso está no próximo destino.
Às vezes, está no lugar onde já estamos.
—
Na próxima temporada, novos destinos.
Novos dilemas.
Novos cases vividos por quem carrega crachás invisíveis… e histórias profundas.
Mas hoje, só hoje, o palco era a casa.
E o aplauso, silencioso, vinha da paz de estar onde realmente importa.
A série nasceu de um insight profundo:
“Executivos também sangram — mas muitos sangram em silêncio.”
Cada capítulo é baseado em histórias reais vividas por líderes de alta performance.
Nomes foram preservados. Dores, não.
O objetivo nunca foi entreter.
Foi revelar.
Mostrar o que há por trás de cargos, bônus, viagens e crachás dourados.
Desde o lançamento, O Custo Invisível do Crachá® impactou executivos de várias partes do mundo — com reflexões, reconexões familiares, mentorias iniciadas e diálogos que antes eram evitados.
Uma série criada não para agradar...
Mas para despertar.
Acesse: Biografia do Mentor
🔮 O que vem por aí
A jornada ainda está longe do fim.
O crachá continua pesado — mas agora, o protagonista já não o carrega sozinho.
Nos próximos capítulos, você vai acompanhar:
• Uma proposta que pode mudar tudo,
• A entrada de um novo personagem com poder de decisão,
• Um reencontro inesperado com o passado,
• E um momento de ruptura entre o cargo e a identidade.
Prepare-se para diálogos mais densos.
E para decisões que, como na vida real, não têm botão de desfazer.
Se você se vê no topo…
Talvez se veja também nas entrelinhas.
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